nas costas de uma foto, pendurada no corredor por duas molas e fio, há um poema. li-o ontem de novo, por acaso, quando a corrente de ar virou a foto, e mo revelou outra vez.
hoje deixo-o aqui.
Sobre Flancos e Barcos
Havia ainda outro jardim o da minha vida
exíguo é certo mas o do meu olhar
são talvez dois pássaros que se amam
um sobre o outro ou dois cães de pé
é sempre a mesma inquietação
este delírio branco ou o rumor
da chuva sobre flancos e barcos
o inverno vai chegar
sobre a palha ainda quente a mão
uma doçura de abelha muito jovem
era o sopro distante das manhãs sobre o mar
e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do coração
é o silêncio é por fim o silêncio
vai desabar</i>
Eugénio de Andrade