joão tordo, em entrevista à lecool desta semana. jornalista, nómada, escritor, descreve com uma eficácia extraordinária o que eu senti ao voltar. não é pedantismo, não é vaidade – mas julgo que é qualquer coisa que só se percebe quando se vive fora dos muros deste país. qualquer coisa que nos muda.
fica um excerto, o resto podem ler aqui.
– Tinhas saudades de Lisboa quando estavas lá?
Tinha saudades de algumas coisas, uma certa tranquilidade, que não se encontra no bulício diário de Londres, Brooklyn ou Manhattan. Mas temia o dia em que tivesse de regressar. Por acaso, foi isso mesmo que aconteceu, tive de regressar porque o meu visto de estudante tinha terminado e era obrigado a deixar os Estados Unidos. O que encontrei em Lisboa deixou-me por um lado contente e por outro apreensivo. Muitas coisas tinham mudado desde que eu partira, e pareceu-me uma cidade mais vibrante, mais internacional, mas muitas coisas eram o mesmo, uma repetição nauseante de tudo o que eu nunca gostei na minha adolescência e idade adulta. Se tinha saudades? Tinha, mas matei-as depressa.
– Quando voltaste, tomaste mais atenção a esta cidade?
Sim. Olho-a de outro ponto de vista, acho eu. Quem sempre viveu aqui não tem distância (não pode ter) e não tem medidas de comparação. Não é o mesmo ir viajar durante duas semanas ou estar noutro lugar durante dois anos. Não é o lugar que importa em si, é a ausência daquele que deixámos, a transformação de um espaço físico em memórias, nas quais as coisas se distorcem e amplificam. Fica-se com uma noção mais romântica dos sítios e, quando se regressa a eles, já não se perde essa magia. Por isso presto mais atenção aos pormenores, a uma esquina em particular, uma janela, uma rapariga a passar na rua.